Ora aqui estão duas áreas que não podem viver uma sem a outra. Questão diferente (muito diferente!) é a da independência entre os membros destas duas classes.Num contexto ideal essa independência devia ser um dado adquirido e inquestionável. Mas não tenhamos ilusões, esse “mundo ideal” não existe e portanto, essa “independência” também não.
O que verdadeiramente existe, então, é uma relação do tipo da que existe aos milhares no reino animal, em que criam-se relações de uma cumplicidade de tal forma estreita entre determinados membros da classe política e da classe jornalística que, independentemente de alguma comunhão de ideais doutrinários (questão absolutamente acessória neste tipo de relacionamento), a designação mais correcta é a de simbiose.
No caso concreto, os políticos são as “fontes bem informadas” e os jornalistas são o meio da exposição pública que, em grande medida, são a prova de vida que os políticos têm que fazer para existir. Mas também aqui há divisões (no sentido de escalões). Na verdade, quanto mais próximo se está do poder, mais conveniente se torna o político para o jornalista (mais perto fica da premier league). Por razões óbvias, claro está, já que a proximidade do centro de decisão é uma garantia de fornecimento de “notícias”. E em sentido contrário, quanto mais fonte potencial for o político para o jornalista, mais disposto vai estar o jornalista a publicar o que lhe for pedido.
Este é o cenário que existe e como já andamos todos nisto há alguns anos não vale a pena vestirmos o véu e fazer o olhar púdico. As regras são estas, e foi assim que aceitamos ir a jogo. Mas é claro que é um jogo viciado. A este propósito dizia há tempos o ex-ministro Nuno Morais Sarmento (no Expresso da Meia Noite da SIC, se não me engano) que já tinha ido a votos na oposição e no governo e a vantagem que representa esta segunda hipótese é inexplicavelmente grande – embora aqui o que digo esteja potenciado ao máximo.
Mas não me posso esquecer que estamos em cenário de eleições para a concelhia do CDS Porto e que essa é a razão que me levou a escrever este Post. Ou melhor, a primeira das razões, porque se calhar a razão mais decisiva para escrever este Post em concreto foi um artigo que li ontem no semanário Grande Porto (semanário que nunca antes tinha lido, de resto) sobre, precisamente, as eleições que o CDS do Porto do próximo dia 26/Novembro.
O artigo em questão é curiosíssimo. Está claramente dividido em duas partes, sendo uma primeira de conteúdo mais substantivo e outra de conteúdo mais de retoucherie (pronto, está bem, de “corte e cose”…).
Na parte mais substantiva são simpaticamente reproduzidas passagens de uma entrevista a Miguel Barbosa, em que ele fala da cidade, das ideias para a cidade e da intervenção nos próximos dois anos do CDS na cidade.
Na parte de “corte e cose” lá se fez uma espécie de “jogo do galo” com as movimentações do aparelho partidário para, cirurgicamente, se sugerir que o Miguel Barbosa representa uma (inexistente, diga-se) oposição à direcção de Paulo Portas e Pedro Moutinho representa uma (inexistente, diga-se) linha da frente no Porto dessa mesma direcção.
Isto é de tal forma absurdo que não é sequer motivo de desmentido. Mais curiosa, essa sim, é uma brevíssima passagem, pelo meio, em que se refere o presidente da distrital do Porto do CDS, Álvaro Castello Branco, na qual se diz que o mesmo “não apoia publicamente ninguém”.
Ora, eu chamo a atenção para a expressão publicamente, pois esta é a “pedra de toque” desta parte do artigo. Repare-se que não se diz que Álvaro Castello Branco não apoia ninguém. Aliás, não será exagero dizer que o que o artigo demonstra é que Álvaro Castello Branco apoia efectivamente alguém. Só não o faz publicamente, Deus me livre, isso é que não!
Eu se calhar sou um bocadinho antiquado, mas confesso que continuo sem perceber que raio de problemas têm as pessoas em apoiar publicamente quem efectivamente apoiam não publicamente…
Se é uma questão pessoal, pela parte que me toca, quero deixar claro para todos que não beliscarei a amizade que tenho por qualquer amigo meu que decida apoiar outra lista, mesmo que isso possa ser entendido como a quebra de algum dever de isenção que assista a esse meu amigo por força de funções que ocupa. Fiquem sossegados, eu não sou picuinhas e não cobro esses deveres de isenção. Procurarei limitar-me a respeitar tais deveres se, porventura, um dia se aplicarem a mim. E como a vida às vezes dá voltas, às tantas será mais cedo do que seria de supor… mas quanto a isto, voltaremos a falar no próximo dia 26.
António Folhadela Moreira